segunda-feira, abril 03, 2006

Poema Blasfemo

Amor constante para além da morte

Meus olhos cerrar pode a derradeira
sombra que me levar o branco dia;
e desatar minha alma poderia
uma hora ao seu anseio lisonjeira;

mas não, dessa outra parte, na ribeira
deixará a lembrança onde ela ardia;
vogar sabe meu lume na água fria
e perder o respeito à lei certeira.

Alma a que todo um deus prisão tem sido,
veias que a tanto fogo humor têm dado,
medulas que na glória têm ardido,

seu corpo deixará, não seu cuidado;
hão-de ser cinza, mas com sentido;
pó hão-de ser, mas pó enamorado.

Quevedo

Comments:
Toua a ver q isto é um blog de poetas ;)
 
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